Sempre ouvimos contar muitas e muitas histórias sobre a beleza do velho Mercado Municipal. O tradicional prédio ficava instalado ao lado da antiga cadeia e foi demolido para a construção de uma pracinha. Algumas dessas histórias, ouvi do meu próprio avô que, por muitos anos, teve um box por lá, onde vendia as verduras e os legumes que plantava na serra da Bela Vista. Uma vez por semana, ele sempre trazia para Santa Rita, no lombo de um burro, tudo aquilo que produzia, antes mesmo do sol raiar.
Nesta semana, trouxemos uma visão da época que nos mostra como era a rotina daquela verdadeira obra de arte que, infelizmente, foi demolida pela administração pública municipal. Se tivéssemos conservado aquela linda edificação, talvez contássemos hoje com uma peça histórica única e digna de admiração e orgulho para as gerações futuras. Mas não adianta chorar o leite derramado. A construção não existe mais. Resta-nos conhecer um pouco do que foi esta obra e rogar às autoridades locais para que tenham um pouco mais de consciência cultural. Afinal de contas, quando olhamos para trás, conhecemos nossas origens e conseguimos entender quem somos.
Em um artigo da Revista Flamma, de junho de 1926, descobrimos um pouco da realidade deste local. Digamos que a visão do articulista seja um “Lado b” do que foi o mercadão, mas vale a pena reproduzir:
A Visão da época
O nosso mercado é, não resta dúvidas, muito bom e bonitinho mas, em compensação, é muito pequeno. Talvez, por isso, por mais cuidado que sobre ele tenha o seu zeloso fiscal, o sr. João Rodrigues Gomes, não podemos avitar certas irregularidades que observamos por ali em dias de feira.
A Visão da época
O nosso mercado é, não resta dúvidas, muito bom e bonitinho mas, em compensação, é muito pequeno. Talvez, por isso, por mais cuidado que sobre ele tenha o seu zeloso fiscal, o sr. João Rodrigues Gomes, não podemos avitar certas irregularidades que observamos por ali em dias de feira.
Cascas de frutas, folhas de verduras e terra acumuladas são encontradas pelo chão e tornam-se uma mistura escorregadia. Raro é o domingo em que não há escorregadelas por quem por ali vai calçado. Além disso, como já aconteceu à minha senhora, não tem roupa branca que por ali passe que não saia pintadinha de caldo de frutas, as quais lá se comem pelos corredores, sem o cuidado de, ao menos, as cascas serem jogadas fora.
Atendendo ao crescimento extraordinário de nossa população, seria conveniente que, na sede do município, se construisse um grande prédio para a venda de outros gêneros, destinando-se ao atual apenas verduras, frutas e aves. Por conseguinte, haveria a proibição determinante de se atirarem no chão, cascas ou quaisquer sugidades. Assim, aquele estabelecimento comercial tornaria-se digno de ser apreciado por qualquer forasteiro.
Infelizmente, políticos de modo geral confundem progresso, desenvolvimento com praças e prédios que imitam uma Manhattan e acabam por transformar em pó a originalidade, a identidade patrimonial loca. Identidade patrimonial que é objeto de estudo ausente dos currículos escolares. Talvez, esteja ai , a atitude criminosa de tantos políticos quanto a questão patrimonial coletiva.
ResponderExcluirProf. Anderson