quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quando Assis Chateaubriand e Juscelino Kubitschek estiveram aqui

 Chatô perde a linha

Um fato de que me lembro, acontecido na casa de Sinhá Moreira, foi a visita de Assis Chateaubriand. Ele fora convidado para ser padrinho de uma turma que se formara no ginásio. Esse estabelecimento era muito considerado na cidade e foi pedido a Sinhá e seu pai, Francisco Moreira, que recebessem Chateaubriand e sua comitiva para o almoço. Como sempre, já estávamos hospedadas na casa dela desde o início das férias e fomos convidadas para tomar parte nos preparativos. Para nós, sobrinhas, era um prazer ajudar no banquete, incumbidas de servir às mesas, várias delas, dispostas na sala de jantar.

Quando fomos apresentadas à celebridade, ele elogiou nossas cinturinhas. Naquela época, era moda apertar bem a cintura. Para isso, usávamos até uma faixa elástica sob a roupa, chamada Cinturita. As saias eram fartas e usávamos quantas anáguas pudéssemos. Lembro-me de achá-lo muito baixo, animado e falastrão.
O almoço correu tudo bem, com muito respeito e sobriedade, principalmente por causa dos anfitriões.

Não fomos à formatura dos ginasianos, mas soubemos à boca pequena que Chateaubriand abusara das inconveniências em seu discurso. Nisso ele era mestre. Aconselhara aos jovens atitudes não aceitas na época pela sociedade, fora sarcástico e debochado. Não lembro bem do que mais ele fora acusado mas, definitivamente, seu discurso desagradara a todos. Lembro de Sinhá reclamando que se soubesse que ele tomaria tal atitude, não o teria convidado para um banquete, lamentando o convite feito.

Juscelino chega a Santa Rita

Nós fazíamos parte da UDN e não tínhamos trânsito livre entre os adversários. Sendo assim, quase no dia seguinte chegou Juscelino Kubitschek de Oliveira para ser padrinho de formatura de outro colégio. Houve uma recepção na casa dos nossos contrários e, como Juscelino era uma pessoa amável, educada e um grande diplomata, conseguiu a simpatia de todo o povo santarritense.

Política, em Santa Rita, confundia-se com a vida pessoal e social dos cidadãos. Estes, por aqui, dividiam-se entre dois partidos: UDN e PSD. Para mim, criada em um meio Udenista, de tanto ouvir os Pessedistas descritos como inimigos, evitava olhar para eles, pois - na minha fantasia infantil - temia que eles me fizessem algum mal. Jovens cujas famílias pertencessem a partidos diferentes, evitavam conviver entre si.

Para quem não viveu a época, é difícil acreditar que houve um tempo em que até casamentos eram influenciados por conveniências políticas. Algumas famílias impediam até que seus filhos se casassem com filhos de pessoas afiliadas ao partido oposto.

Muito mais tarde, já casada, tive o privilégio de conhecer o Sr. Juscelino Kubitschek na casa de João Pinheiro Neto, amigo do meu marido. Confesso que ao receber o convite e, sabendo que lá estaria o ex-presidente, senti-me traindo toda a minha família. Meus temores desva-neceram diante de sua figura carismática. Sentada na mesa ao seu lado, recebi dele tanta atenção, como se eu fosse alguém importante e não uma moça de vinte e poucos anos que, na verdade, pouco sabia de política e nem mesmo sabia muito da vida.

O texto acima foi retirado da obra “Casos e causos - História de gente comum”
de Marly Barbosa Fontes
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OBS: O paraibano Assis Chateaubriand criou e dirigiu a maior cadeia de imprensa do país, os Diários Associados: 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal (O Cruzeiro), uma mensal (A Cigarra), várias revistas infantis e uma editora.

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