O Estado de São Paulo - Tecnologia - 19/12/2014
O mundo tem produzido algumas versões para o Silicon Valley, região
famosa por reunir empresas de alta tecnologia na Califórnia. Poucas,
entretanto, são tão pitorescas quanto a instalada em Santa Rita do Sapucaí,
cidade localizada no sul do estado de Minas Gerais.
O lugar é um vale entre serras e fazendas de leite e de pés de café.
Mas engana-se quem pensa que a vocação econômica local gira em torno das atividades
do campo, como sugere a visão das ruas de paralelepípedos, comércio tímido e
alguns cavalos atados de frente para portões.
Dos 38 mil habitantes de Santa Rita, 14 mil (37%) dão expediente em
firmas cujo capital intelectual é a matemática binária da eletrônica. Lá
existem 153 empresas, três a mais do que em 2012. Descontando as dez
consideradas de grande porte (uma delas, a Linear, foi comprada pela japonesa
Hitashi), as 143 que restam são micros, pequenas e médias, majoritariamente
jovens e que movimentam um faturamento anual projetado em R$ 2,7 bilhões para
2014, 12% a mais em relação ao desempenho de 2013.
Em tempos de empresários com os pés no freio, Santa Rita experimenta
uma onda de investimento, mais modesto que nos últimos quatro anos, é verdade,
quando avançou em média 30%, mas ainda assim acima da média do País. A
explicação vem do perfil dos negócios, em sua maioria dedicados à cadeia de
telecomunicações – uma área que corre atrás do prejuízo em infraestrutura – e
todos dirigidos à demanda corporativa.
Um caso prático disso é o da Petcom, especializada em projetos de
cabeamento e ‘conectorização’ de fibras óticas. Fornecedora de empresas como a
Vivo, a Petcom saltou de um faturamento de R$ 23 milhões em 2013 para os R$ 40
milhões estimados para este ano. O número de projetos com a participação da
empresa cresceu exponencialmente e, para custear o ganho de escala, ela está
para inaugurar um novo galpão que vai ampliar de 2,2 mil para 5 mil metros
quadrados sua área construída, saindo de 105 para 293 funcionários.
“A gente pode dizer que, em um momento em que a indústria vai mal, aqui
é como se fosse um Brasil que dá certo”, resume Roberto de Souza Pinto,
presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e
Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel) – Vale da Eletrônica é a marca
cunhada pelo marketing para alavancar o polo nacionalmente.
A animação do líder sindical esconde alguns problemas na região, como a
escolha pouco lucrativa de alguns empresários pela produção de sistemas de
circuito fechado de televisão, um nicho há anos controlado pelos asiáticos e
que oferece baixa margem de lucro no mercado. Mas os bons exemplos,
indubitavelmente, superam os maus.
“A maioria das empresas está bem porque houve investimento em inovação
e eficiência, com certificados de qualidade”, conta Marcos Goulart Vilela, que
abriu em 1983 a segunda empresa de eletrônica da cidade, a Leucotron, hoje com
170 funcionários e R$ 40 milhões faturados. “Graças a esse investimento
conseguimos sobreviver à abertura das importações na época do Collor”, conta.
O investimento em educação, que está por trás da estruturação do polo
(leia mais sobre isso nesta página), também é fundamental para a região
sobreviver aos importados. “O que fazemos é criar coisas novas o tempo todo”,
afirma Carlos André Salvador, dono da Biquad Tecnologia. O empresário de
Mococa, interior de São Paulo, chegou a cidade para estudar na Inatel,
referência em formação de engenheiros para a indústria de telecomunicação.
“Eu estudei aqui e como encontrei um ecossistema todo montado, fiquei”,
conta o empreendedor, que hoje desenvolve equipamentos para radiodifusão e
atualmente fatura R$ 3 milhões. “Eu tenho de 10 a 15 fornecedores para tudo que
preciso localizados a cinco quilômetros daqui”, afirma Salvador, revelando
outro dos segredos da região.
Essa é Santa Rita do Sapucaí, promissora e centrada em tecnologia limpa que faz com que seus cidadãos se orgulhem da Terra onde nasceram. Parabéns a todos os empresários desta Terra em especial ao Carlos André Salvador e Marcos Goulart Vilela que se manifestaram no artigo acima.
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