terça-feira, 27 de setembro de 2011

Reminescências (Leopoldo de Luna)

Maximiano Octávio de Lemos
A minha grande alegria foi quando recebi o primeiro número do jornal de “Santa Rita”, publicado pelo Dr. Maximiano de Lemos. Li da primeira letra do cabeçalho ao último anuncio que era de uma sapataria. O diretor era um homem inteligente, bom orador, falava alto, em tom de discurso, inimitável na propaganda do seu colégio. Certa vez me surpreendeu rabiscando umas tiras de papel. Disse-me que era um pequeno artigo para o jornal de minha terra. Ele tomou as laudas, leu a crônica e guardou dizendo que ia publicá-la no jornal local “A Procellária”.  Feita a publicação, enfiou no bolso um número da folha. A cada visitante, mostrava o artigo, declarando que era de um aluno que chegara para o colégio, analfabeto, seis meses antes.

O estabelecimento preparou uma turma para prestar exames em São Paulo. Eu devia requerer quatro matérias. Fui para a casa à espera do dia do embarque. Em Santa Rita encontrei o jovem político Delfim Moreira, recentemente empossado no cargo de Secretário do Interior do Governo Dr. Francisco Antônio de Salles. Sorridente, amável e bondoso, foi à nossa casa pedir a meu pai permissão para levar-me à Capital Mineira, onde prestaria exames. A minha primeira prova foi de português. A turma convocada era geralmente pequena: seis ou oito examinandos.

Fazia parte da banca o professor Aurélio Pires, que mereceu de um grande poeta mineiro um poema: “Mestre Aurélio entre as rosas”.  A comissão examinadora escolheu para a prova escrita a descrição de uma festa qualquer que fosse. Descrevi uma festa na roça, com fogueira, desafio de violeiros. Enxertei versos caipiras e quadras do folclore brasileiro.

O bedel que servia aquela sala era um moço de Pouso Alegre que se fizera meu amigo. Quando abriu a porta para sair com a bandeja de café, avisou-me que o mestre Aurélio estava lendo a minha prova para os colegas, e davam boas risadas. Fiquei um pouco nervoso. Estariam gostando ou zombando da composição? Teria errado pondo tanta jovialidade numa coisa tão séria que era um exame? A maneira com que fui recebido para a prova oral me tranqüilizou. O provinciano bisonho que eu era levou para a casa uma distinção.

À hora do jantar, o Dr. Delfim Moreira soube do resultado. Homem boníssimo, ficou satisfeito. E pronunciou umas palavras que por muito tempo me ficaram soando nos ouvidos:__ “estuda rapaz, que a nossa terra precisa de gente”. Ele era natural do município de Cristina, mas a terra a que se referia com tanto carinho era Santa Rita do Sapucaí.

(Leopoldo de Luna - Correio do Sul - 16/07/67)
 

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