Quem conheceu Benedito Samuel dos Santos, o popular “Samuerzinho”, ainda relembra com saudade dos tempos em que o baixinho de costas arqueadas era o síndico da Rua Nova. Com uma malemolência de fazer inveja aos mais lendários malandros dos morros cariocas e com a energia de 10 índios sete-flechas que mal cabiam em seu corpo de um metro e meio, Samuelzinho ensinou sua gente a sonhar.
Uma das poucas fotografias de Samuelzinho. |
Durante sua curta existência, muitos foram os projetos que marcaram a história da comunidade negra santarritense. Fundador da Escola de Samba Sol Nascente, diretor do Treze de Maio - por muitos anos - e comissário número 1 do jogo de bicho nas redondezas, o rapaz era o corisco em pessoa.
Para Samuel, não tinha tempo ruim. Seu negócio era fazer barulho. Todo ano, organizava Festas juninas, campeonatos de várzea, Desfiles de carnaval e Bailes na Associação José do Patrocínio, para se divertir com os amigos. Onde tinha movimento, lá estava ele com seus passos curtos e sorriso comprido.
O sonho
Apesar dessa energia toda, Samuelzinho precisava realizar um grande sonho antes de passar desta para melhor: levantar o caneco com o Treze de maio. Ele já estava com o saco cheio de ver seu time desclassificado, mas dessa vez tinha uma ideia: convencer seu grande amigo, Luiz Carlos, a voltar aos gramados. Em consideração a ele, o goleiro, que já estava há muitos anos longe do futebol, aceitou o desafio e contratou o famoso preparador físico - Barbosa - para deixá-lo tinindo no momento em que o juiz desse o apito inicial.
Apesar dessa energia toda, Samuelzinho precisava realizar um grande sonho antes de passar desta para melhor: levantar o caneco com o Treze de maio. Ele já estava com o saco cheio de ver seu time desclassificado, mas dessa vez tinha uma ideia: convencer seu grande amigo, Luiz Carlos, a voltar aos gramados. Em consideração a ele, o goleiro, que já estava há muitos anos longe do futebol, aceitou o desafio e contratou o famoso preparador físico - Barbosa - para deixá-lo tinindo no momento em que o juiz desse o apito inicial.
Quando saiu a notícia de que o velho Treze estaria vindo com força total, o popular Baracat procurou imediatamente Samuelzinho para oferecer patrocínio e apoio moral. Com a grana, o time comprou um jogo de camisas, bolas novas e algumas geladas para aliviar a pressão antes e depois da partida.
Com o time já pronto, o campeonato de 1985 teve início. A cada jogo, um novo espetáculo era proporcionado pelo grande clube formado por craques como Jair (Djalminha, fui!), José Hamilton (Mito), Nenem Justino, Macarronê, Nanico, Hermínio, Paulo da Pinta e muitos outros.
Embora o Treze estivesse bem na tabela, em algumas ocasiões Samuelzinho perdia a linha com carretel e tudo. O baixinho não conseguia manter a calma quando via seus jogadores entortando o caneco no Baile “das Cravinas”, em véspera de jogo duro. Certa vez, o treinador reuniu o grupo no vestiário e desabafou: “Esse time tinha que chamar Madrugada Futebol Clube! Véspera de jogo e todo mundo na gandaia!” Diante daquelas verdades ditas pelo rapaz, os jogadores não conseguiram conter o riso. Ainda assim, com ressaca e tudo, o Treze atropelou o adversário e se aproximou ainda mais do grande objetivo.
Depois de cumprir tabela invicto durante todo o campeonato, o incrível Treze de Maio acabou chegando à primeira final em sua longa carreira. O rival seria o temido Industrial Futebol Clube que, há muito tempo, não sabia o que era perder um título.
Para garantir a vitória, Samuelzinho recorreu a tudo que era Santo. A primeira estratégia foi pedir ao famoso “Picareta” que fizesse uma mandinga. Após embolsar o dinheiro, o fogueteiro oficial de Santa Rita garantiu: “Com essa simpatia seu time tem 50% de chance de vencer!” Ao ouvir os prognósticos, Samuelzinho pegou a grana de volta e saiu de lá indignado. A próxima estratégia foi levar uma benzedeira ao campo para “fechar o gol”. Não satisfeito, pediu a um ex-padre que benzesse a bola e foi a Pouso Alegre fazer uma macumba contra o técnico do time adversário. Aleluia, treinador do industrial, acabou sabendo que o seu time havia sido “amarrado” em um terreiro e também correu a Pouso Alegre para reverter a magia. Ao chegar lá, entretanto, ouviu a notícia desanimadora da macumbeira: “Agora já era. Seu nome tá na boca do sapo.”
O invencível Treze de Maio. |
A grande final
No domingo, o Estádio Erasmo Cabral estava abarrotado de torcedores. Confiante de que seu time seria campeão, Samuel pediu à “Maria Bonita” que entregasse um troféu para o goleiro Luiz Carlos, antes mesmo do jogo começar. Com tanta fé e mau-olhado, o resultado não poderia ser outro: 1x0 para o Treze.
Um time vencedor
Depois da conquista, o time de Samuelzinho continuou acumulando vitórias. Nessa altura do campeonato, o treinador já tinha contratado até uma banda de música, comandada pelo maestro Tonico. Nos 4 anos seguintes, o Treze conquistou todos os canecos que viu pela frente e excursionou pelas várzeas mais afamadas da zona rural. Em um desses amistosos valendo uma cervejinha depois do jogo, Samuelzinho, que tinha levado 15 jogadores, falou: “Vamos entrar com os 15 que esse povo não sabe contar!” Não deu outra. O time adversário, dirigido pelo famoso “Cido Discoteca”, tomou uma sacolada inesquecível de 5 gols a 1.
Samuel e a Política
Em 1988, o popular treinador decidiu entrar para a vida pública para que pudesse encontrar novas maneiras de movimentar o bairro. Apoiado por alguns amigos, Samuel apostou no slogan “Não vote em branco, vote em Samuér.”, mas a campanha acabou não dando resultado. Muitos moradores da Rua Nova não deram o apoio ao rapaz que tanto fez pela comunidade e seu desgosto foi imenso. Depois disso, Samuelzinho parou com tudo. Não quis mais saber de bola, deixou de lado a Escola de Samba Sol Nascente e acabou falecendo, alguns meses depois, cercado pelos companheiros. O reconhecimento após a sua morte, veio quando a pracinha do bairro recebeu seu nome e quando o Sol Nascente fez um enredo em sua homenagem.
Saudade
Hoje, quem sobe o morro da Rua Nova ainda se lembra daqueles tempos em que a comunidade ria, cantava, encantava e se divertia com a estripolias daquele fantástico rapaz de costas envergadas. A lenda se foi. Ficaram as histórias que agora escrevo para que não se percam nas curvas do tempo.
(Carlos Magno Romero Carneiro)
No domingo, o Estádio Erasmo Cabral estava abarrotado de torcedores. Confiante de que seu time seria campeão, Samuel pediu à “Maria Bonita” que entregasse um troféu para o goleiro Luiz Carlos, antes mesmo do jogo começar. Com tanta fé e mau-olhado, o resultado não poderia ser outro: 1x0 para o Treze.
Um time vencedor
Depois da conquista, o time de Samuelzinho continuou acumulando vitórias. Nessa altura do campeonato, o treinador já tinha contratado até uma banda de música, comandada pelo maestro Tonico. Nos 4 anos seguintes, o Treze conquistou todos os canecos que viu pela frente e excursionou pelas várzeas mais afamadas da zona rural. Em um desses amistosos valendo uma cervejinha depois do jogo, Samuelzinho, que tinha levado 15 jogadores, falou: “Vamos entrar com os 15 que esse povo não sabe contar!” Não deu outra. O time adversário, dirigido pelo famoso “Cido Discoteca”, tomou uma sacolada inesquecível de 5 gols a 1.
Samuel e a Política
Em 1988, o popular treinador decidiu entrar para a vida pública para que pudesse encontrar novas maneiras de movimentar o bairro. Apoiado por alguns amigos, Samuel apostou no slogan “Não vote em branco, vote em Samuér.”, mas a campanha acabou não dando resultado. Muitos moradores da Rua Nova não deram o apoio ao rapaz que tanto fez pela comunidade e seu desgosto foi imenso. Depois disso, Samuelzinho parou com tudo. Não quis mais saber de bola, deixou de lado a Escola de Samba Sol Nascente e acabou falecendo, alguns meses depois, cercado pelos companheiros. O reconhecimento após a sua morte, veio quando a pracinha do bairro recebeu seu nome e quando o Sol Nascente fez um enredo em sua homenagem.
Saudade
Hoje, quem sobe o morro da Rua Nova ainda se lembra daqueles tempos em que a comunidade ria, cantava, encantava e se divertia com a estripolias daquele fantástico rapaz de costas envergadas. A lenda se foi. Ficaram as histórias que agora escrevo para que não se percam nas curvas do tempo.
(Carlos Magno Romero Carneiro)
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