terça-feira, 30 de novembro de 2010

Carlos Henrique Vilela tira um som com Juliano “Ganso” Souza

Ganso é o nome fantasia de Juliano Souza. Um dos músicos mais conhecidos e reconhecidos da cidade. Neste bate papo com o Empório, ele conta como é viver em Santa Rita equilibrando-se em 4 cordas.   
 
Como começou a sua carreira de músico profissional?
Eu sempre gostei muito de música. Alguns amigos já tinham banda na época e eu via todo mundo tocar violão. Isso foi me dando muita vontade. Quando minha prima comprou um, eu logo peguei emprestado. A vontade era tanta, que eu nem tinha violão e já estudava. Isso era o mais legal. Passado um tempo, eu peguei o contrabaixo. Uns dois anos depois, em 98, eu comecei a tocar profissionalmente com o General Java.

O que te fez optar pelo instrumento?

Faltava alguém pra tocar contrabaixo na cidade. Se eu conseguisse tocar, seria mais fácil arrumar uma banda. Depois me apaixonei pelo instrumento.

Quais foram suas maiores influências como músico?

Comecei ouvindo Raul Seixas, Titãs, Barão Vermelho, Beatles, Red Hot Chili Peppers. Além disso, Santa Rita tinha uma cena de Rock bem legal na época. As bandas Luxúria e Estado Maior me influenciaram pra caramba. No DA Inatel rolava muita banda. Eu via muito som ao vivo e isso me deixou muito a fim de tocar e fazer o que eles faziam.

Como você vê a cena atual?

Pelo tempo de estrada, a qualidade melhorou muito e nosso ouvido também. Com isso, a referência do pessoal que está começando evolui junto. A música melhora a partir do momento em que aprimora a referência de quem ouve. Eu, naquela época, tinha aula com quem? Quem eu via tocando? Pessoas de fora e mais ninguém. Um ou outro da cidade. Hoje, existe mais referência. A música está mais perto de nós. O acesso ao Conservatório também ficou mais fácil.

Como é viver de música em Santa Rita?

Cara, eu sempre falei que de música não dá pra viver, dá pra sobreviver. Mas a música melhorou sim, melhorou pra todo mundo. Tem muita gente trabalhando aqui, dando aula, com estúdio de ensaio, gravação e tudo mais. Mas, hoje em dia, o que é valorizado é a música de entretenimento, que não traz prazer nenhum pra gente. A música artística não tem valor nenhum, não rende nada. Parece até um absurdo isso. E não é só aqui. Nas cidades grandes, a música de qualidade também é alternativa. A diferença é que lá tem mais pessoas alternativas, e isso torna a cena maior.

E como os músicos lidam com isso?

Pra unir o útil ao agradável, eu faço os dois, mas a gente se preocupa com isso, tanto que fizemos um projeto com tributos a artistas de qualidade.

No que consiste este projeto?

Foi uma idéia do Lucas Julidori, mas todo mundo entrou de cabeça. Começamos com o tributo ao Raul Seixas, que eu organizei e não só toquei como também cantei. Depois rolou o do Cazuza, que teve até teatro no meio, com interpretações sobre a vida dele, e teve também solos inusitados, como de contrabaixo e gaita. O mais recente foi o do Milton Nascimento, que o Régis organizou. Teve até participação do coral do Inatel. Tudo isso pelo preço de R$ 1,00 a entrada. O preço era só pra cobrir o custo de fazer isso, pagar o som e tal. A intenção não era ganhar dinheiro. Era levar a música até o pessoal da cidade. Era levar cultura para o povo. E todo mundo apoiou. Rolaram várias canjas com músicos da cidade, vieram músicos de fora e até professores de música de outras cidades.

Como é a cena nas cidades vizinhas, como Pouso Alegre e Itajubá?

Itajubá não tem muitos músicos bons, mas tem vários lugares pra tocar. Pouso Alegre tem grandes músicos, vários bares, muita música ao vivo e o Conservatório. Com isso, as pessoas têm parâmetros me-hores pra ouvir. Pessoas de fora vão pra lá curtir som ao vivo. Inclusive muita gente de Santa Rita. Falta isso aqui. Mesmo assim, essas cidades não são nada perto de Poços, por exemplo. Sempre toco lá, pois depender só de tocar aqui é impossível. Tocar em Santa Rita, mesmo, é raro hoje em dia.
Por que chegamos nesse ponto?

Pela dificuldade de manter um lugar aberto. Um lugar que possa ter música ao vivo. Pela dificuldade de alguém querer coordenar um lugar desses. Dá muito problema com vizinho e tal. É muito difícil. Músico bom não falta aqui. Falta é lugar pra tocar. Além disso, a prefeitura não va-oriza nada. Quem valoriza são as próprias pessoas que fazem e correm atrás.

Muito se fala sobre o fim do Rock, que o Rock morreu. O que você acha disso?

Nada a ver. Mesmo em Santa Rita tem algum espaço pro Rock. Na maioria, festas de república. São duas ou três por ano, mas vale a pena. O Rock tem uma capacidade imensa de se reciclar. Mas, se o Rock é capaz de se reciclar, porque ele passou do mainstream ao alternativo? A cena inverteu. Antes, o alternativo era o sertanejo, o forró, o axé. O Rock era o principal. Hoje em dia, o Rock é o alternativo e esses estilos bem brasileiros são muito fortes.  Mas o Rock se renova a cada momento. 

E como você encara o eletrônico, que vem crescendo tanto no Brasil e no mundo?

Tenho que reconhecer que o eletrônico tem coisas de qualidade, mas eu tenho um certo preconceito. Posso mudar de idéia um dia mas, até agora, não ouvi nada que me agradasse. Pra mim, a música tem que ser tocada ali, ao vivo.

O que você escuta hoje em dia?

Não gosto de nada novo no Rock. Eu conheço muita coisa, mas não escuto. Não tem nada que presta de novo. Os únicos que salvam e que eu gosto são o Lenine e o Rappa. O Lenine faz um som muito bom. Também ouço muito o Hermeto Pascoal, que até hoje produz coisas novas. Conheci recentemente uma banda de Campinas que toca Chorinho e é excelente, chamada Choro Elétrico.

Nesse tempo de estrada, muita coisa inusitada certamente aconteceu. Conte um pouco pra gente.

Uma vez, ajudamos um cara que tinha acabado de bater numa vaca na estrada. Ele tinha ido ver a gente tocar numa cidade vizinha, escondido dos pais. Por sorte, quem se machucou foi só a vaca e fizemos até primeiros socorros nela. Outra vez, chegamos numa cidade pra tocar e já tinha outra banda lá no bar. Alguém, que queria sabotar a dona da casa, ligou pra ela e disse que era da nossa banda e que havíamos cancelado o show. Um dia, numa festa que nem segurança tinha, um cara muito forte, completamente alterado, queria subir no palco pra falar no microfone. Não deixamos e ele, furioso, saiu correndo atrás de mim. Eu, com o contrabaixo no colo, tive que sair correndo no meio do mato. 

Discos indicados:

Lenine - Olho de Peixe
Barão Vermelho - Carne Crua
Titãs - Go Back
Red Hot Chili Peppers - Blood Sugar   
Sex Magik
Hermeto Pascoal: Live at Montreux

3 comentários:

  1. "a prefeitura não valoriza nada. Quem valoriza são as próprias pessoas que fazem e correm atrás."

    disse tudo, conheço mtos musicos exelentes aki em srs, mas ninguem da valor em nada. So ligam pra Sertanejo, forro, psy (ou outra coisa q toka nas baladas), e rap/hip hop...qm toca rock aki em srs, n é mto valorizado como nas outras cidades. Bem lamentavel isso...

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  2. Ganso .. eu conheço haha ..
    Mais pow entrevista o Paulista, Marcos ..
    O cara manja de rock tbm .. e é bem conhecudido na cidade ..
    Jéssica

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  3. entrevista o alan e o thiago

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